Bitcoin como moeda anti-Estado? Musk reacende discussão

À medida que a corrida global pela inteligência artificial se acelera, Elon Musk retorna aos holofotes das criptomoedas. Em uma mensagem publicada no X, o CEO da Tesla apresenta o bitcoin como um baluarte contra a tendência inflacionária das moedas fiduciárias, afirmando que ele é “baseado em energia” e, portanto, imune à manipulação estatal. Essa posição coloca o principal ativo de volta ao centro dos debates monetários internacionais.

Bitcoin, um baluarte energético contra a moeda fiduciária

Em uma publicação concisa, porém inequívoca, feita nesta terça-feira no X (antigo Twitter), Elon Musk reacendeu o debate em torno do bitcoin e das políticas monetárias inflacionárias, no contexto de uma forte correção no mercado cripto.

Respondendo a uma mensagem do analista Zerohedge, o CEO da Tesla declarou: “é por isso que o Bitcoin é baseado em energia: você pode emitir moeda fiduciária falsa, e todo governo na história já fez isso, mas é impossível falsificar energia“.

A mensagem mencionava temores de um novo episódio de criação massiva de dinheiro destinada a financiar a próxima grande corrida global: a da inteligência artificial. Para Zerohedge, esse contexto já está por trás da recente valorização do bitcoin, ouro e prata, vistos como refúgios contra a desvalorização que se aproxima.

Ao enfatizar que a produção de bitcoin é baseada em gasto energético mensurável e irreversível, Musk reforça uma tese antiga, mas ainda debatida: o bitcoin como um ativo sólido, incorruptível e não manipulável pelos Estados.

Seu modelo de proof-of-work lhe confere, segundo seus defensores, legitimidade única entre os ativos. Nesse sentido, a declaração de Musk destaca vários pontos-chave:

• Inflação monetária como ameaça sistêmica, alimentada por políticas fiscais expansionistas e pela corrida da IA;
• O papel da energia como unidade de verdade econômica, em um sistema onde a criação de dinheiro depende de gasto físico e verificável;
• A crítica histórica ao dinheiro fiduciário, percebido por Musk como inerentemente sujeito à manipulação governamental.

Nesse contexto, o bitcoin é apresentado não como um mero ativo especulativo, mas como um mecanismo de defesa contra a depreciação do poder de compra. Uma posição que ressoa com parte da comunidade cripto, que busca estabilidade em um ambiente geopolítico e econômico cada vez mais incerto.

Uma declaração simbólica, mas ambivalente

Essa aparição midiática de Musk é ainda mais notável por ser sua primeira posição pública significativa sobre o bitcoin em quase três anos. A última foi em novembro de 2022, no auge do colapso da FTX.

Naquela época, o fundador da SpaceX declarou de forma sóbria: “BTC vai superar isso, mas será um longo inverno“, enquanto o preço do bitcoin acabara de cair para US$ 16.000. O momento atual dessa nova mensagem, enquanto o debate sobre a sustentabilidade da dívida pública e a IA se intensifica, sugere um renovado interesse estratégico, talvez político, no potencial papel do bitcoin na nova ordem econômica mundial.

No entanto, vale lembrar que Musk já teve reservas quanto à própria rede Bitcoin. Em maio de 2021, a Tesla suspendeu pagamentos em BTC, citando preocupações ambientais relacionadas ao uso de combustíveis fósseis na mineração.

Essa decisão provocou uma queda imediata de cerca de 6% no preço. Embora Elon Musk tenha posteriormente se comprometido a reconsiderar a posição se a rede atingisse pelo menos 50% de energia renovável, nem ele nem a Tesla confirmaram a retomada dos pagamentos até o momento. No entanto, o uso de energia renovável na mineração teria ultrapassado 55%, sem uma reação oficial da empresa.

A declaração atual, embora elogiosa, não elimina certas ambiguidades. Trata-se de um simples sinal ideológico ou de um prelúdio para uma nova estratégia industrial de Musk em torno do Bitcoin? Se o bilionário optar por reintegrar totalmente o BTC ao ecossistema da Tesla, ou respaldar certos serviços de IA com ele, o impacto pode ser potencialmente grande no mercado. Enquanto isso, essa declaração ressalta o quanto o posicionamento em criptomoedas está se tornando um indicador estratégico, na interseção dos próximos desafios econômicos, monetários e tecnológicos.